A representante do Institut de Recherche pour le Développement (IRD) no Brasil Marie-Pierre Ledru esteve no Instituto de Geociências no início de maio para proferir a palestra “Projeto Colônia: o mais extenso registro contínuo dos últimos dois milhões de anos na América do Sul”. Marie-Pierre trabalha com a docente do Instituto de Geociências Fresia Ricardi Branco numa parte desse projeto. As pesquisadoras e duas alunas de mestrado e doutorado do IG estudam a evolução da Mata Atlântica e do clima no Quaternário na cratera Colônia, no sul da cidade de São Paulo.
A cratera Colônia tem quase 4Km de diâmetro, com cerca de 300m de profundidade e uma borda soerguida de 120m. Segundo Marie-Pierre, a hipótese é que a bacia foi criada há milhões de anos pelo impacto de um meteorito. “Em 2016, conseguimos uma verba da Fundação BNP Paribas e conseguimos perfurar 50m de profundidade. A partir dessa perfuração, vários dados foram coletados. Estamos hoje co-orientado duas alunas Unicamp na área de palinologia, que estuda os polens que são produzidos pelas plantas e transportadas pelo ar, pela água e pelos insetos”, conta a francesa, que é uma das maiores especialistas mundiais nessa área. Tais polens vêm se depositando ao longo do tempo na bacia, permitindo que os pesquisadores analisem a evolução da biodiversidade daquela região. “Cada planta tem um polen específico. Quando você estuda o fóssil, estuda também a vegetação que estava crescendo nos arredores dessa área. Cada vegetação é relacionada a um tipo de clima”, conta a pesquisadora.
Estudos a partir da perfuração permitirão a reconstituição da Mata Atlântica há quase 1 milhão de anos. O objetivo de Marie-Pierre, Fresia e as alunas de mestrado Jerlin Fernandez e de doutorado Adriana Camejo é entender as mudanças ocorridas na Mata Atlântica, comparando com as alterações do clima no mesmo período. Segundo Marie-Pierre, ainda não é possível explicar o porquê do surgimento de uma diversidade tão grande nas regiões tropicais e tão pobre nas mais frias. “Esse sítio de Colônia é um registro único porque nos permite estudar a evolução de todo o Quaternário e da biodiversidade tropical, que é a mais rica do mundo”, disse Ledru. O macro Projeto Colônia envolve também pesquisadores da USP atuando em outras áreas, como a cronobiologia. O docente do IG Alvaro Penteado Crósta também atuou no macro projeto.
IRD
O IRD é um instituto francês de ciência e tecnologia, sob a supervisão conjunta dos Ministérios de Educação Superior e Pesquisa e Relações Exteriores da França. É um instituto de pesquisa para o desenvolvimento sustentável que trabalha nas regiões tropicais do mundo em cooperação técnica e científica, montando projetos em parcerias com instituições locais dos países em que está sediado. A instituição tem representações em 38 países, incluindo Ásia, África e quase toda a América Latina – Peru, Equador, Bolívia, Colômbia, México, além do Brasil, onde desenvolve atividades de pesquisa, formação e inovação há mais de 60 anos. Seus representantes atuam através de intercâmbios entre as instituições.
Marie-Pierre é uma das representantes do IRD no Brasil desde 2017 e deve permanecer no cargo por quatro anos. Antes de se tornar representante, a pesquisadora francesa trabalhou por 5 anos na USP, entre 1998 e 2003. Foi nesse período que conheceu Fresia Ricardi Branco. A partir de então, as duas vêm trabalhando em parceria. “São raros os laboratórios que recebem pesquisas de palinologia no Brasil. A Fresia tem uma estrutura na Unicamp que me permite encaminhar projetos desse tipo”, disse Ledru. “É uma honra contar com a colaboração de Marie, que é uma pesquisadora de nível internacional. É uma grande oportunidade para os alunos”, disse Fresia Ricardi Branco. Segundo a docente do IG, há também a possibilidade para alunos fazerem iniciação científica nesse tema.