A pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) Fernanda de Negri esteve na Unicamp na sexta, 23, para uma palestra destinada à comunidade acadêmica interessada em entender um pouco mais sobre o cenário brasileiro no que se refere à inovação científica e tecnológica. Fernanda palestrou sobre os “Novos caminhos para a inovação no Brasil” no Instituto de Geociências (IG) durante seminário do Programa de Pós-Graduação em Política Científica e Tecnológica.
A economista, que é ex-aluna de mestrado e doutorado do Instituto de Economia da Unicamp e uma das mais respeitadas profissionais na área de ciência, tecnologia e inovação, apontou um panorama dos principais desafios para o Brasil se tornar um país mais inovador, que são: a formação de pessoas qualificadas, uma boa infraestrutura científica e tecnológica e um ambiente favorável ao processo de inovação.
Segundo a pesquisadora, há poucos cientistas e pesquisadores no país, se comparado com outros países desenvolvidos ou em desenvolvimento. No Brasil, são cerca de 800 cientistas e por milhão de habitante, enquanto na Coréia do Sul esse número ultrapassa 5 mil. Outra dificuldade no país são as poucas oportunidades de trabalho para esses profissionais. “Temos que aumentar a formação desses profissionais, mas também propiciar condições para que essas pessoas desenvolvam seu conhecimento no Brasil”, disse. De acordo com Fernanda, há uma disposição muito grande das universidades se aproximarem das empresas. No entanto, lembra que a ciência básica é financiada em grande parte pelo estado em qualquer país do mundo. “É necessário ter um ambiente que favoreça a inovação nas empresas para que elas busquem o conhecimento que está sendo produzido nas universidades”, disse.
Sobre o desempenho da Unicamp no cenário brasileiro, Negri considera a Universidade de Campinas um dos grandes referenciais no Brasil em produção científica e tecnológica. “Escrevi um artigo que é um estudo de caso comparando o MIT, nos Estados Unidos, com a Unicamp. O orçamento da Unicamp, por exemplo, é praticamente metade do orçamento do MIT e vocês tem três vezes o número de alunos”, revela. “Muita gente diz que nos Estados Unidos quem financia as universidades são empresas e não é verdade. É o Estado que financia pesquisa em qualquer lugar do mundo. A participação de empresas no orçamento do MIT não é muito maior do que é aqui na Unicamp”, complementou.
Falta de financiamento é justamente um dos grandes gargalos nas universidades brasileiras, segundo Fernanda. “Carecemos de muito investimento para ser mais competitivo a nível internacional”, aponta. Para a pesquisadora, outro grande desafio é a internacionalização. “As universidades brasileiras são muito pouco internacionalizadas se você utilizar qualquer padrão de comparação internacional. Há pouco professor estrangeiro, pouco aluno estrangeiro. Mesmo nas mais internacionalizadas como UFABC e Unicamp, a participação de docentes estrangeiros é muito pequena”, disse. “Mesmo com uma série de gargalos que limita a capacidade das universidades brasileiras, tem-se aumentado sua participação na produção cientifica mundial”, destacou.
Para de Negri, o Instituto de Geociências da Unicamp “tem uma contribuição importante porque se consolidou como um dos principais centros que pensa em inovação e política científica e tecnológica”. Maria Beatriz Bonacelli, docente do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências, destacou a vinda da economista à Unicamp. “Ela é uma grande pesquisadora e conhecedora dos temas de políticas de ciência, tecnologia e inovação. Temos a oportunidade de contar com uma pessoa que está num dos principais institutos de reflexão do país”, disse.
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Texto e fotos: Eliane Fonseca