Um termo de cooperação assinado no início de outubro entre a Unicamp e a empresa petrolífera Shell apoiará um projeto de pesquisa e desenvolvimento (P&D) na fronteira do conhecimento na área de exploração de óleo e gás no pré-sal da bacia de Santos. O projeto será executado pelo Instituto de Geociências (IG) da Unicamp pelos próximos três anos. Junto ao projeto de P&D será obtido um equipamento que permitirá realizar medidas geomecânicas sob condições de pressão das rochas do pré-sal, totalizando um investimento de R$ 15 milhões e 600 mil – um dos mais altos já executados pelo IG. A Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp) será a gestora administrativa e financeira.
De acordo com o coordenador do projeto, o docente Emilson Pereira Leite, o convênio vai possibilitar a análise em multiescala de dados de reservatórios do pré-sal, fornecendo informações que podem reduzir o risco de perfuração de poços secos. Vai colaborar, portanto, com a melhora na retirada do petróleo. Emilson vai focar sua pesquisa na parte de inversão sísmica usando dados petrofísicos e de poços. O docente Gelvam André Hartmann vai se concentrar na petrofísica e na aquisição de dados e informações em escala micro para centimétrica. Já o docente Alessandro Batezelli vai trabalhar a modelagem geológica através dos dados levantados pelos geofísicos.
Microanálises em plugues retirados de amostras de rochas permitirão a obtenção de informações tais como porosidade, permeabilidade, tipo de fluido e o comportamento de minerais em escala micrométrica. Serão analisados também dados de perfis de poços em escala centimétrica e dados sísmicos em escala métrica. “A ideia é integrar esses dados em diferentes escalas para construir modelos preditivos que nos permitam apontar, em regiões onde existem somente dados sísmicos, a probabilidade de ocorrência de hidrocarbonetos na área analisada”, aponta o coordenador do projeto.
Na parte prática, as metodologias serão testadas com dados de simulações de diferentes cenários para verificar como os modelos se comportam. “Há uma equipe que vai trabalhar a parte metodológica, com métodos computacionais e matemáticos, e outra que vai construir modelos com base em dados reais”, diz Emilson. “Esses modelos poderão indicar acúmulos de hidrocarboneto com mais precisão. Em microescala, permitirá o entendimento de como o óleo se comporta dentro da rocha, o que vai permitir aos engenheiros da Shell elaborarem métodos de extração mais eficientes”, complementa Batezelli.
Segundo Gelvam Hartmann, já existem métodos para trabalhar as passagens de uma escala para outra (micro para centimétrica). “O que diferencia esse projeto em relação a outros é que vamos usar ferramentas e metodologias para minimizar as incertezas de uma escala para outra. A ideia é que usemos os dados para calibrar as informações de poço, e estas para calibrar as de sísmica. Para isso, serão usadas algumas ferramentas de machine learning. Além disso, o IG vai receber um equipamento que permitirá testar condições de pressão do pré-sal. Isso pode abrir possibilidades de uso para outros projetos”, destaca o docente. O equipamento é único na Unicamp e ficará no Laboratório de Geofísica do IG, sendo operado em parceria com o Laboratório de Mecânica da Fratura da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC). As informações levantadas permitirão, portanto, que se façam cálculos característicos dos reservatórios do pré-sal em diferentes escalas.
Os pesquisadores também trabalharão com física de rocha digital em que amostras serão analisadas em microtomógrafos para gerar imagens de altíssima resolução. “Serão feitos testes que em amostras físicas seriam muito mais restritivos e mais demorados. A imagem tridimensional permitirá fazer análises com cenários diferentes de saturação de fluidos para saber como as propriedades petrofísicas se comportam. Essa é uma tendência recente das pesquisas nesta área”, lembra Emilson.
A equipe vai trabalhar com dados de quatro campos do pré-sal na bacia de Santos, o que gerará uma grande quantidade de informações para serem estudadas. Além dos docentes, a equipe é formada por dois mestrandos, dois doutorandos, três pós-doutorandos e pelo analista de sistemas Ricardo Passanezzi – todos do IG. Duas pessoas deverão ser contratadas via CLT: uma para a área de programação computacional e outra na área de geofísica, com experiência em óleo e gás. Pela Shell, há uma gerente de projetos e um profissional de Houston, nos Estados Unidos, que vai acompanhar a parte técnica. Como colaboradores internacionais, participarão três docentes dos Estados Unidos – Mrinal Sen e Kyle Spikes, da Jackson School of Geosciences da Universidade do Texas e Carl Sondergeld, da Mewbourne School of Petroleum and Geological Engineering da Universidade de Oklahoma - todos com experiência nos temas do projeto e interessados em entender o pré-sal. Está prevista ainda a participação desses colaboradores em workshops na Unicamp e a ida dos alunos e docentes envolvidos no projeto aos Estados Unidos.
A área de exploração de hidrocarbonetos é uma das possibilidades de trabalho para alunos diplomados pelo IG. “A formação de recursos humanos na área de óleo e gás é muito importante. Esse relacionamento internacional abre portas e é uma experiência que vai agregar muito para os alunos”, lembra Batezelli. O docente também menciona a importante relação Universidade x empresa. “Carecemos dessa relação mais estreita. Esse projeto caminha nesse sentido. Conseguindo mais recursos para investir na pesquisa, melhoramos o sistema de educação formando bons pesquisadores. A Unicamp vai ganhar muito nesse sentido”, finaliza.
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Texto: Eliane Fonseca
Fotos: Antônio Scarpinetti
Edição de Imagem: Renan Garcia