Publicado originalmente no Jornal da Unicamp online.
Docente contribuiu com o debate sobre política industrial brasileira e atuou nos Institutos de Economia (IE) e de Geociências (IG)
A Unicamp outorgou nesta quinta-feira (5) o título de professor emérito a Wilson Suzigan, professor aposentado da Universidade que atuou junto aos Institutos de Economia (IE) e de Geociências (IG). A iniciativa foi proposta por docentes do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do IG, local onde Suzigan atuou entre 2004 e 2022, e foi aprovada pela congregação do Instituto em março de 2023 e pelo Conselho Universitário (Consu) em agosto do mesmo ano. A entrega do diploma foi feita em cerimônia realizada no auditório do IG e contou com a presença de familiares, amigos, colegas de atuação, ex-alunos e outros membros da comunidade universitária.
“Antes de minha vida acadêmica na Unicamp, passei por vários lugares. E apesar de ter estado em tantas instituições, foi aqui que me senti em casa”, comentou Suzigan durante a cerimônia presidida pelo reitor da Unicamp, Antonio Meirelles, que contou com a participação da coordenadora-geral, Maria Luiza Moretti, do diretor do IG, Márcio Cataia, e do professor Sérgio Monteiro Salles, padrinho de Suzigan.
A iniciativa da concessão do título de professor emérito partiu dos professores André Furtado, Leda Gitahy, Maurício Compiani, Renato Dagnino, Ruy de Quadros Carvalho, Sérgio Salles, Sérgio Queiroz — todos do IG —, e Renato Garcia, do IE. “Suzigan é uma referência, um ponto de fuga no horizonte acadêmico, o que só reforça minha alegria por estar aqui”, celebrou Salles.
Nascido em 1942 na cidade de Americana, Suzigan deu início a sua carreira acadêmica em 1961, no curso de Ciências Econômicas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Integrou a primeira turma de mestrado em Economia no Brasil pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, onde defendeu a dissertação “O processo de substituição de importações no Brasil” em 1968. Entre 1981 e 1984, cursou o doutorado na Universidade de Londres, produzindo a tese “Investment in manufacturing industry in Brazil, 1869-1939”.
“Tive a sorte de conviver com dois mestres, Aníbal Villela e Issac Kerstenetzky, na FGV. Seus atributos foram muito estimulantes para mim”, lembrou o professor emérito, afirmando que sempre pautou sua carreira na busca pela superação do subdesenvolvimento brasileiro.
Após o curso de mestrado, atuou como pesquisador e coordenador de pesquisa econômica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) até 1984 e ingressou na Unicamp em 1985 como docente do IE. Suzigan permaneceu na unidade como professor até sua aposentadoria, em 1998, e depois como colaborador, até 2004, quando se transferiu para o Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências, onde atuou até 2022.
Suzigan construiu uma importante trajetória nas ciências econômicas e contribuiu para o debate sobre indústria e política industrial no país. Ele também se destaca por seus estudos sobre história da economia e sobre economia industrial da inovação. Ao longo de sua atuação, publicou 69 artigos científicos em periódicos nacionais e internacionais de grande repercussão, 17 livros completos como autor e/ou organizador e 38 capítulos de livros. Entre suas obras, “Indústria Brasileira: origens e desenvolvimento” foi um marco para o setor. “Seu livro deu novas cores e entendimentos para o processo de industrialização do Brasil”, apontou Salles.
Foi orientador de 27 teses de doutorado, 18 dissertações de mestrado e 42 projetos de iniciação científica. Suzigan teve, ainda, papel importante na criação e edição de duas revistas científicas referência no debate econômico: a revista Economia, da Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia (Anpec), criada em 1999 e da qual foi editor até 2001; e a Revista Brasileira de Inovação, criada em 2002 e mantida pelo IG da Unicamp desde 2006, na qual permanece como editor. “Ler os trabalhos de Suzigan é uma aula de como uma pesquisa científica deve ser feita. Suas reflexões são marcos para todos os que pretendem compreender o país”, avalia Cataia.
Em seu discurso, Suzigan manifestou a necessidade de os novos pesquisadores retomarem os estudos acerca das teorias que alimentam as políticas industriais do país e de como esses referenciais vêm sendo aplicados. “Eu, pelo menos, nunca me senti satisfeito com o que estava colocado”, lembrou. Ele ainda avalia que, atualmente, o país apresenta iniciativas promissoras, como o programa Nova Indústria Brasil, que vai ao encontro das perspectivas teóricas propagadas pelos estudos realizados na Unicamp. “Temos que correr, pois a evolução tecnológica não espera”, advertiu.
Maria Luiza Moretti agradeceu a Suzigan pela honra de tê-lo como professor da Universidade e pelo exemplo que deixa aos professores e pesquisadores. “Esta cerimônia não reconhece apenas o histórico de um pesquisador de altíssimo nível, mas um verdadeiro líder intelectual, cuja trajetória é um exemplo de dedicação, inovação e impacto positivo”, destacou a coordenadora-geral.
Para o reitor da Unicamp, o legado de Suzigan é um exemplo às gerações de pesquisadores que se formam na Universidade e impulsiona sua missão de contribuir para o desenvolvimento do país. “A importância de conceder um título como este a você [Suzigan] e a vários de nossos intelectuais e buscar nessa história uma inspiração para o nosso futuro é que podemos fazer a diferença e precisamos de inspirações para isso”, afirmou Meirelles. Ao final da cerimônia, Suzigan recebeu os cumprimentos dos amigos de longa data, algo que, desde o início da cerimônia, desejava fazer. “Daqui do palco vejo tantos amigos e amigas e estou ansioso para dar um abraço em cada um”, comentou com alegria.
Autoria: Felipe Mateus
Edição de imagem: Paulo Cavalheri
Fotos: Lúcio Camargo