Entre os dias 22 e 26 de outubro ocorreu a X Semana de Geologia da Unicamp – Política, Meio Ambiente e Diversidade na Geologia. O evento foi organizado por 30 alunos do IG. Mini cursos, palestras e mesa redonda possibilitaram trocas de experiências entre alunos, docentes e especialistas na área.
Aluna do 4º ano de Geologia e uma das organizadoras da Semana, Alessandra Casagrande avalia o evento de forma positiva. “Pra gente foi gratificante ter um bom retorno tanto de professores quanto dos alunos da graduação e da pós”, disse a aluna, que destacou a participação feminina no evento, principalmente a Mesa que discutiu mulheres na mineração.
Mulheres na Mineração
Com participação das geólogas Jaqueline de Freitas e Poliana Toledo e da cientista social Bárbara Ferrari, a mesa “Mulheres na área de mineração” proporcionou um debate sobre a presença feminina no campo da mineração, que ainda é majoritariamente masculino. Tomando como ponto de partida a tese “Mulheres invisíveis, mas necessárias”, defendida por Anabelle Carrilho da Costa na Universidade de Brasília, a discussão abordou as barreiras enfrentadas pelas mulheres para entrar e se estabelecer nesse mercado de trabalho.
De acordo com Bárbara Ferrari, a diferença salarial entre os gêneros é mais baixa na mineração do que em outras profissões, entretanto, as mulheres nessas áreas passam por sérios problemas de sabotagem, assédio, invisibilidade e outros mecanismos que acabam por expulsá-las da profissão, como a falta de estrutura para atender demandas femininas nos locais de trabalho.
Para ela, é preciso que as mulheres se organizem para exigir seus direitos, pois as empresas não querem ter trabalho. “Entender o campo da mineração é entender o campo da hipermasculinidade. Somente a presença da mulher já é uma transgressão à ordem masculina. Mas elas devem se impor como mulheres, arregaçar as mangas e ir atrás, porque se deixar nas mãos das empresas decidir se vão dar direitos, isso nunca irá acontecer”.
Poliana Toledo também faz essa observação, lembrando que ao longo de sua experiência em empresas de mineração, ela mudou muita coisa em si mesma, mas ainda não foi considerada boa para ser uma geóloga de exploração, tendo sido colocada para fazer o trabalho administrativo que seus colegas homens não queriam.
Atualmente Poliana faz doutorado no IG, mas ela acredita que não existe saída, pois as mulheres precisam se especializar muito mais que os homens para serem levadas a sério no ambiente de trabalho. Ela ainda lembra que as mulheres na academia enfrentam problemas muito parecidos com as da exploração, mas que nas universidades existe uma oportunidade que não existe nas empresas. “A gente pode falar sobre isso, como estamos fazendo aqui, dar visibilidade ao trabalho de outras mulheres, a minha banca do mestrado, por exemplo, foi toda feminina”.
Jaqueline Freitas, que se graduou pela Unicamp, também lembra que as mulheres nessa área estão expostas o tempo todo ao assédio, alegando que isso acaba criando uma necessidade muito grande de distanciamento com os outros colegas de trabalho, pois qualquer amizade é vista como motivo para comentários ou convite para abusos. Ela ainda faz uma comparação com a África do Sul, país em que as mulheres criaram um forte debate sobre a presença feminina na mineração, com discussões na TV aberta sobre a precarização do trabalho e direitos reprodutivos dessas profissionais. “Elas são 20% da força de trabalho na mineração e possuem mais visibilidade que a gente. Aqui no Brasil não tem isso, aqui as pessoas nem sabem o que é mineração”, lamenta.
A geóloga ainda sugere que, para melhorar a visibilidade feminina na área, é preciso que as próprias mulheres apoiem umas às outras, por meio de indicações, por exemplo. “Os homens estão sempre indicando homens, eles raramente indicam mulheres. É uma forma de fortalecer e ter maior presença feminina. Porque eu não vi nenhuma movimentação masculina dentro das geociências no sentido de incluir mulheres”, finaliza.
Palestras e impressões da Semana
Entre os palestrantes da Semana de Geologia, a docente da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Monica Heilbron, falou sobre a geologia do sudeste brasileiro. Para ela, participar de um evento organizado por alunos de graduação é gratificante.“Eles organizaram tudo, trouxeram pessoas de excelência do Brasil, com temas variados e isso dá uma empolgação para os estudantes. Como professores, ficamos honrados com o convite”, disse. A docente, que já foi pró-reitora de pós-graduação e pesquisa da UERJ destacou o apoio dado pela Unicamp nesses tipos de evento: “acho importantíssimo que a Pro-Reitoria de Graduação continue apoiando, como vem apoiando muito bem esses eventos,para que tenham recursos para que a iniciativa deles possa se concretizar ainda na graduação”.
Já a docente Renata Schmitt, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apresentou o produto de um projeto internacional realizado em parceira entre a UFRJ e a Petrobras para reconstruir o mapa geológico de 60 % dos continente da Terra no período chamado Gondwana, há 500 milhões de anos. O projeto durou cerca de oito anos e foi feita uma compilação da geologia de vários países que englobou América do Sul, África, Austrália, Antártica, Índia e várias partes da Europa e Ásia. Os resultados do projeto serão apresentados em abril do ano que vem.Para a docente, “todo curso de graduação deveria ter uma semana anual para renovar conhecimentos e trocar idéias. Cada universidade é um mundo à parte e seria bom ter uma integração entre elas”, finalizou.
Texto: Paula Penedo e Eliane Fonseca
Fotos: Divulgação IG