Entre os dias 29 de novembro e 01 de dezembro o Instituto de Geociências da Unicamp sediou a reunião Paleo SP 2018, um encontro chancelado pela Sociedade Brasileira de Paleontologia (SBP). O objetivo desse evento, que ocorre anualmente em diversas regiões do Brasil, é promover a integração entre pesquisadores, graduandos e pós-graduandos em paleontologia, promovendo a troca de experiências, a divulgação e a discussão de resultados de pesquisas em andamento, bem como o estabelecimento de parcerias científicas.
Durante o evento foram desenvolvidas diversas atividades como minicursos, palestras, e apresentação de pesquisas em pôsteres e vídeos de divulgação.Além disso, também foi feita uma visita ao Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), do Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM), guiada por Flávia Callefo, ex-aluna do doutorado do IG e que atualmente desenvolve um pós-doutorado no LNLS.
Curso Introdução à Paleoarte
Dentre as atividades do encontro, ocorreu o curso Introdução à Paleoarte, com Ariel Milani Martine, que é biólogo com mestrado e doutorado no IG; Beatriz Beloto, bióloga; e Felipe Alves Elias, do Museu de Zoologia da USP.
De acordo com Ariel, que trabalha com paleoarte desde 1996, o curso abordou a história e a importância dessa arte que reconstrói o aspecto em vida de animais e plantas do passado. É uma espécie de registro visual da paleontologia ao longo do tempo. “Permite a ligação entre a ciência paleontológica e o público em geral”, disse Ariel. “No futuro, deve haver um aprimoramento desse conhecimento que temos hoje por conta de novas descobertas que serão feitas. Então, quando olhamos para a paleoarte de 30 anos atrás, percebe-se que foi produzida de acordo com o conhecimento científico da época”, complementou. Além de conceitos teóricos, com abordagem a tópicos importantes para a boa produção do trabalho, os alunos tiveram a possibilidade de criar desenhos com técnicas de replicagem. Para quem se interessa pela área, é necessário ter noção artística básica e um rigor científico.
Alguns trabalhos de Ariel ficaram expostos no hall do IG durante o encontro. Ele trouxe crânios que são réplicas em resina que mostram a evolução dos hominíneos desenvolvidas a partir de materiais do professor Walter Neves da USP. O ex-aluno do IG é também o “criador” das espécies de dinossauros expostas na exposição “Dinossauros (?) no IG”, que ficam em exposição até o final o final do ano.
Visita ao LNLS
Durante a visita, Flavia apresentou o UVX, o acelerador de partículas mais antigo do CNPEM,que está em fase final de operação e o Sirius, que é a fonte de luz sincrotron de quarta geração, de maior brilho do mundo, e que irá substituir o UVX. Em sua fala, ela explicou que o princípio do UVX e do Sirius é acelerar partículas carregadas em um campo eletromagnético e com isso produzir radiação, que será coletada para uso nos experimentos.
“A vantagem da luz sincrotron é que ela tem uma ampla gama espectral. Isso permite fazer diversas análises, com diversos materiais, e diversas energias, então é bem versátil. Por isso que a tecnologia de luz sincrotron está se tornando cada vez mais popular no mundo e as nações estão percebendo que é importante ter isso”.
A paleontologia é uma das áreas que pode fazer uso de um acelerador de partículas em seus experimentos. De acordo com a professora Frésia Ricardi, pesquisadores do IG têm usado o UVX nos últimos três anos para analisar os fósseis, como esteiras microbianas, rochas carbonáticas e ossos de jacarés fósseis.
“Então o que a gente analisa? É a distribuição dos elementos, porque os minerais, que ajudam a preservar os fósseis, são compostos por elementos, então fazendo um mapa super preciso de quais elementos estão presentes, a gente pode chegar a quais são os minerais e como foi que esse resto se transformou em um fóssil”.
Prêmio Sérgio Mezzalira
Durante o encontro foi entregue o prêmio Sérgio Mezzalira a Marcelo Adorna Fernandes, docente da Universidade Federal de São Carlos, por suas contribuições à paleontologia. Marcelo foi surpreendido com a premiação antes de apresentar a palestra “O cenário da paleoicnologia paulista”. “O reconhecimento que os alunos dão pra gente nessa devolutiva é fantástico. Foi uma grata surpresa receber esse prêmio”, disse.
Em sua palestra, o docente falou sobre vestígios fósseis no estado de São Paulo, como a ocorrência de pequenos artrópodes digeridos, pegadas, ovos e coprólitos, que são fezes petrificadas que possuem restos orgânicos preservados.
Mesa-redonda
No sábado, 1, ocorreu a mesa-redonda “A Divulgação Científica da Paleontologia: um outro olhar nas nossas pesquisas”, que trouxe como convidados nomes renomados da divulgação científica nacional.
Entre os participantes estavam os paleontólogos Aline Ghilardi e Tito Aureliano, que mantêm a rede de divulgação da paleontologia “Colecionadores de Ossos”; o jornalista Reinaldo José Lopes, repórter de ciência da Folha de São Paulo e autor do Blog Darwin e Deus; o paleontólogo Paulo Miranda Nascimento, criador e apresentador do canal do Pirula no Youtube e o Biólogo Bruno Augusta, coordenador do grupo CiênciaAção, que desde 2009 atende crianças em atividades ligadas ao ensino da paleontologia.
Durante o debate, os presentes discutiram a importância de divulgar ciência para a população, mas também debateram as dificuldades atuais do ensino e divulgação científica, com a crise de investimentos e a tendência de muitas pessoas em adequar os fatos às suas realidades, desacreditando informações que não reflitam suas visões de mundo. Ainda assim, eles incentivaram os presentes no auditório a realizarem divulgação científica e até mesmo a segui-la como uma área profissional, tendo em vista que, justamente devido a essas dificuldades, a divulgação se torna cada vez mais essencial.
Lançamento de e-book
Durante o evento foi lançado o e-book "Tempo Profundo: uma proposta de exposição", organizado pela docente Carolina Zabini. Tem "como objetivo central fornecer uma visão sobre os conteúdos e formas de abordagem de uma exposição científica que aborda um dos principais temas da geologia e paleontologia: o tempo profundo, e claro, a passagem do tempo com alguns eventos biogeológicos memoráveis". Para mais detalhes, acesse o e-book.
Por Eliane Fonseca e Paula Penedo