Matéria Tote Nunes, publicada originalmente no site da Unicamp.
Enesin 2022: grupos apresentam trabalhos de conclusão
Depois de um ano de atividades, grupos de alunos que participaram do Encontro Estudantil Interdisciplinar (Enesin) 2022 fizeram nesta quinta-feira (22), à noite, a apresentação dos trabalhos para os coordenadores do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp (IdEA).
Realizado em parceria com a SEC (Secretaria Executiva de Comunicação), o programa teve como objetivo juntar grupos de alunos de disciplinas distintas – e até com níveis de formação diferentes – para que pudessem trabalhar de forma interdisciplinar, em projetos que atendessem a demandas diretas da sociedade.
No total foram 30 grupos inscritos. Três deles apresentaram os seus trabalhos nesta quinta, no encerramento do Enesin 2022. Eles receberam um certificado emitido pelo IdEA.
“Sou totalmente partidário da ideia de que a gente deve caminhar em direção à interdisciplinaridade”, disse o presidente do Conselho Científico e Cultural do IdEA e professor do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC), José Mario Martinez.
“E é bom a gente estimular a interdisciplinaridade. É o que sempre falo. Os problemas mais importantes do mundo são resolvidos de forma multidisciplinar. Nenhum desses problemas se resolve exclusivamente pela matemática, que é a minha área, por exemplo, ou por uma área específica. Só se resolve com uma intervenção multidisciplinar”, ensina o professor.
Para Martinez, a promoção da interdisciplinaridade pode ser feita de várias maneiras, e o Enesin foi uma delas.
Um dos grupos – formado por estudantes da geologia, geografia e matemática – usou técnicas da matemática aplicada, de otimização, para auxiliar a gestão de cooperativas de reciclagem de lixo urbano em Campinas.
A ideia foi a de criar parâmetros para a melhoria da coleta do lixo reciclável realizada pelas cooperativas, com redução de custos e maiores ganhos na preservação do meio ambiente.
O estudante de geologia Leonardo de Souza da Silva disse ter identificado muitas vantagens no caráter plural da composição do grupo.
“A parte mais legal de ter trabalhado com pessoas de cursos diferentes se deu no âmbito da matemática. As pautas humanas, por exemplo, eram muito bem resolvidas pela Geografia. Aquelas da ordem do meio ambiente, a gente conseguiu solucionar dentro da geologia. Só que a parte de otimização, dos cálculos, dos custos, a gente só avançou com a participação da matemática”, explicou ele.
Aluno de graduação do curso de Estatística, Vinicius Litvinoff Justus fez dupla com Gustavo Palma de Andrade, estudante de Geografia, num trabalho que pretendeu medir os impactos socioeconômicos do rompimento de barragens em Minas Gerais – casos de Mariana e Brumadinho, ocorridos respectivamente em novembro de 2015 e janeiro de 2019. Para ele, a dupla se beneficiou por conta da complementaridade.
“Eu tinha uma visão de como a estatística poderia ajudar a medir os impactos, ao passo que o Gustavo tinha a visão do fenômeno. Os conhecimentos trazidos pelo Gustavo foram fundamentais para que a gente conseguisse aplicar os métodos estatísticos”, explicou ele.
Situação semelhante ocorreu com Lélia Santiago Custódio da Silva, mestranda em Geociências que integrou um grupo com outras cinco pessoas e que fez a simulação do fluxo da água do Rio Paraopebas – fortemente impactado pelo rompimento da barragem de Brumadinho.
“A universidade é um espaço de múltiplos saberes e poder compartilhar [esses saberes] com outros pesquisadores, de outros campos, contribuiu muito para o entendimento do fenômeno”, disse Lélia.
Vocação interdisciplinar
Coordenador geral do IdEA, o professor Christiano Lyra disse que o projeto valeu a pena. “Valeu a pena pelo trabalho que os alunos fizeram e pelo processo. Mesmo aqueles que não chegaram a concluir o trabalho tiveram a chance de se conhecer, de fazer um projeto juntos. Eles identificaram limitações, possibilidades, e isso é muito gratificante”, disse o professor.
“E outro aspecto muito interessante foi o entusiasmo. Os alunos perceberam o quanto eles podem ser úteis à sociedade. E descobriram isso no processo”, acrescentou.
A coordenadora adjunta do IdEA, professora Isabela Cardoso, diz que a Unicamp tem vocação interdisciplinar.
“Eu avalio que essa é uma iniciativa necessária, pela ideia de multidisciplinaridade. E esse é um ponto que sempre me atraiu muito na Unicamp. Eu frequentei outras universidades e sinto que a Unicamp tem uma vocação interdisciplinar, que se reflete até mesmo em sua arquitetura. E se reflete também no currículo”, disse a coordenadora adjunta.
“O Enesin estimulou a interdisciplinaridade, a conversa entre alunos dos diversos cursos e a possibilidade de se fazer um projeto em comum. Num segundo ponto, o projeto estimulou a relação com a sociedade, o que vai ao encontro da curricularização da extensão”, concluiu ela.
Aproximar a Universidade da sociedade
Para a secretária executiva de comunicação adjunta, Christiane Neme Campos, o Enesin 22 foi um projeto arrojado, com uma proposta que vai ao encontro dos objetivos da Universidade.
“Arrojado, e de certa forma rebelde, na medida em que trouxe para os estudantes o desafio de estudar problemas reais sem o cerco formal das disciplinas, permitindo a eles que propusessem soluções científicas para esses problemas com um enfoque verdadeiramente interdisciplinar”, afirmou a secretária adjunta.
“O projeto é tão inovador que esbarrou na cultura atual, na forma como ensinamos e fazemos ciência na universidade. A sua primeira edição foi um aprendizado e as dificuldades enfrentadas, pontos de análise para futuras edições do projeto”, disse ela.
"Contribuir para uma ‘universidade que abraça a e se deixa abraçar pela sociedade’ é vocação da SEC”, acrescentou.
Segundo Christiane Campos, a parceria entre a SEC e o IdEA é estratégica para viabilizar esse princípio norteador e aproximar a Universidade da sociedade. “Estivemos juntos nessa iniciativa e estaremos juntos em muitas outras”, finaliza.
Além do certificado, os estudantes que participaram do projeto receberam de presente um exemplar do livro “Capitalismo e colapso ambiental”, de Luiz Marques.
Fotos: Antonio Scarpinetti
Edição de imagem: Paulo Cavalheri