Matéria publicada originalmente no Jornal da Unicamp.
Estudo liderado pelo DPCT Unicamp deve ajudar a elaborar políticas para pesquisa e inovação
Como medir os impactos de pesquisas de excelência na sociedade? Esta é a pergunta que motiva o projeto “Pesquisa da pesquisa e da inovação: indicadores, métodos e evidências de impactos”, coordenado por Sergio Luiz Monteiro Salles-Filho, professor do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A equipe do projeto conta com alunos de graduação, pós-graduação, docentes e servidores de diversos grupos de pesquisa da Unicamp, como o Laboratório de Estudos sobre a Organização da Pesquisa e da Inovação da Unicamp (Lab-GEOPI), o Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP) e o Laboratório de Estudos de Ensino Superior (LEES). São parceiras a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal do ABC (UFABC) e a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Segundo o pesquisador do DPCT, Evandro Coggo Cristofoletti, um dos objetivos da pesquisa é ampliar o entendimento – tanto na Academia, como na sociedade em geral – sobre as formas de produção e uso de conhecimento e, assim, abrir novas possibilidades de organização e fomento da pesquisa e da inovação baseada em pesquisa. Nesse sentido, é fundamental debater o conceito de excelência e relevância da pesquisa para (re)pensar políticas e estratégias de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PDI), particularmente em conexão com sua relação com o desenvolvimento econômico, social e ambiental e com diferentes segmentos da sociedade, dentre os quais se encontram saúde, educação, mobilidade, competitividade, dentre outros. O desafio é criar métricas e indicadores de aspectos da produção de conhecimento científico de excelência e relevância social.
Em outros termos, a pesquisa visa a realizar pesquisa de fronteira em indicadores e métodos relativos à dinâmica de produção de conhecimento científico e tecnológico, suas ligações com o uso do conhecimento e suas consequências sobre a sociedade. Para isso, foram criadas quatro frentes temáticas de investigação: a primeira é denominada ‘Conectando funding aos impactos da pesquisa’, com o desafio de desenvolver metodologias que permitam ligar o financiamento da pesquisa e seus resultados com seus usos e impactos na sociedade.
A segunda frente de pesquisa chama-se ‘Novas formas de priorização, seleção e decisão no financiamento da pesquisa’, que tem como meta discutir e testar formas diferentes de seleção de investimentos em pesquisa e inovação em agências de fomento (em complemento à revisão pelos pares).
Já a terceira frente, denominada ‘Trajetórias profissionais e mobilidade de pesquisadores’, tem como missão identificar e traçar trajetórias de trabalho e a dinâmica de mobilidade dos pesquisadores, principalmente levando em conta os retornos – individuais e coletivos (econômico, social e cultural) – dos investimentos na formação de profissionais altamente qualificados. Na quarta frente do projeto, ‘Indicadores e metodologias de análise de instituições de ensino superior (IES) e Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs)’, o desafio é desenvolver novas tipologias de instituições de ensino superior e pesquisa mais acuradas em relação às características destas instituições em sua composição e natureza, bem como ao que entregam à sociedade (formação, pesquisa, extensão, dentre outros aspectos).
As equipes envolvidas em cada frente de trabalho vêm explorando novas bases e fontes de dados bibliométricos, bem como debatendo potencialidades de uso de novos métodos estatísticos e econométricos para mensuração e criação de indicadores. “É importante ressaltar que o projeto conta com a participação ativa e a experiência da Gerência de Indicadores da Fapesp, há vários anos desenvolvendo análises sobre a produção científica e tecnológica no estado de São Paulo”, destacou Cristofoletti.
De acordo com ele, a pesquisa está ainda em fase inicial, mas seus resultados têm o potencial de aplicação e impacto direto no planejamento de políticas e estratégias de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI), com foco no financiamento, bem como de dar suporte à maior accountability e advocacy junto a atores internos e externos à comunidade de pesquisa e à sociedade em geral, demonstrando os efeitos do investimento em Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI). “Debater e mensurar os impactos sociais da pesquisa torna-se um desafio ainda mais importante diante de um cenário de desvalorização (política, social, econômica) da ciência e da universidade”, finaliza.
Por Patrícia Mariuzzo
Fotos: Antônio Scarpinetti
Edição de imagem: Paulo Cavalheri