O docente Marko Monteiro, do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências, de camisa azul à direita, integra há 2 anos o projeto “Comparative Covid Response: Crisis, Knowledge, Policy” (CompCoRe), que realiza estudo comparativo das respostas nacionais em termos de saúde pública, economia e política à pandemia de COVID-19 a partir de uma perspectiva de estudos de ciência, tecnologia e sociedade (CTS). O projeto é liderado pelas Universidades de Cornell e Harvard e é composto por pesquisadores de 16 países dos cinco continentes. O docente participou recentemente de um encontro presencial do grupo em Boston (EUA) para atualizar as informações de cada país.
De acordo com Marko, o convite para participar do projeto veio através de Phillip Macnaghten, professor da Wageningen University (Holanda), que já havia trabalhado em outros estudos com o docente da Unicamp e que já foi professor colaborador no DPCT/IG. Desde então a equipe do estudo de caso brasileiro vem trabalhando na geração e análise de dados. No Brasil, Marko coordenou os estudos com auxílio de Phillip. A coleta e análise de dados foi liderada pelo ex-pós-doc da Unicamp Alberto Urbinatti, com auxílio de Ione Mendes, Felipe Reis e Gabriela Di Giulio, da USP. “Cada país fez um levantamento de acordo com seu contexto. No nosso caso, fizemos acompanhamento diário de notícias e correlacionando a crise da Covid-19 a várias outras crises: de saúde pública, política e econômica”, disse o docente. A primeira reunião presencial do projeto ocorreu em na John F. Kennedy School of Government, onde os participantes foram recebidos por Sheila Jasanoff – professora de Harvard com estudos comparativos consolidados na área de ciência, tecnologia e sociedade.
Um relatório preliminar do estudo apresentou no início de 2021 3 categorias diferentes que ajudam a descrever as diferenças entre as respostas à pandemia e a forma como a sociedade aceitou ou reagiu a elas. Brasil, Índia, Itália, Reino Unido e Estados Unidos foram classificados como países “caóticos”. China, Singapura, Coreia do Sul e Taiwan como “de controle”. Alemanha, Austrália, Áustria, França, Japão, Holanda e Suécia como “de consenso”. Nos estudos desenvolvidos pelo grupo internacional ficou evidente que as denominações não se relacionam ao tamanho da economia ou com o fato de ser desenvolvido ou não. “Tem relação com a falta de articulação entre governo e ciência. No Brasil, por exemplo, ocorreu uma adesão muito grande à vacinação, maior do que nos EUA. Por outro lado, não teve articulação nacional, mas os EUA tiveram com uma equipe técnica nacional, mas mesmo assim foi caótico. Destacamos no Brasil a desarticulação das esferas federal, estadual. O SUS depende dessa articulação de entes. Isso foi discutido como sendo um dos fatores principais da causa de mortes evitáveis no Brasil, além do atraso da vacina, que foi objeto da CPI da Covid, mexendo no tabuleiro politico”, afirmou Marko.
De acordo com o docente, o próximo passo no projeto CompCoRe é continuar a análise a fim de produzir capítulos de cada país analisado, que passarão por revisão e deverão integrar um livro, reunindo os dados de pesquisadores dos países analisados.
Por Eliane Fonseca Daré
Imagem: arquivo pessoal