Por Jefferson Picanço, docente do Departamento de Geologia e Recursos Naturais
Na última quarta feira de novembro, dia 29, houve uma atividade muito importante no Acampamento Marielle Vive, em Valinhos. Junto com pesquisadores do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG-USP), os acampados e os participantes do grupo de extensão “Ciclo das águas no Marielle Vive” realizaram um levantamento geofísico no acampamento, em procura de água presente nas fissuras no lençol freático da área. O levantamento contou com a presença do Prof. Emilson Pereira Leite, professor de Geofísica e Diretor Associado do IG, mais os seus alunos da disciplina de Geofísica.
O levantamento geofísico no Marielle Vive foi uma iniciativa do Projeto de Extensão em conjunto com os Acampados. Para realizar o levantamento, contaram com o apoio do IAG, liderado pelo prof Dr Vagner Roberto Elis e do técnico de laboratório Marcelo César Stangari, que realizou o levantamento. O Sr Luiz Adriano de Lima, responsável pelo setor de Água e saneamento do Acampamento Marielle Vive, acompanhou as atividades.
Foram realizados dois levantamentos com o método da eletrorresistividade, que se baseia na injeção de corrente elétrica no solo e que utiliza as propriedades elétricas dos materiais para medir a resistividade do meio. A técnica adotada foi a do “caminhamento elétrico”, que produz perfis bidimensionais (comprimento x profundidade) e o arranjo escolhido foi o dipolo-dipolo, que é um dos arranjos que ordenam a disposição dos eletrodos de injeção de corrente e de medidas de potenciais previstos para este tipo de aquisição geofísica. As linhas realizadas foram lineares. Do ponto de vista prático, um equipamento manda uma corrente elétrica no solo, que acaba gerando um campo elétrico. Este campo é lido por um equipamento receptor, que mede a diferença de potencial e calcula a resistividade do meio prospectado.
Os estudos geofísicos mostram que os materiais terrestres como solos, água e rochas apresentam variações em suas propriedades físicas, onde a resistividade é uma delas. Por exemplo, para rochas graníticas, como as que afloram na área do acampamento, a resistividade é normalmente alta. Entretanto, se houverem fraturas preenchidas por água, esta resistividade pode sofrer uma substancial redução em seu valor. Através da medição destes potenciais ao longo do terreno podemos ter uma ideia das variações de resistividade e, secundadas por análises geológicas, podermos saber sobre a presença ou não de água no subsolo.
O levantamento foi bem-sucedido, com dois perfis geoelétricos realizados na área do acampamento. Agora, estes dados serão processados em softwares específicos pelos técnicos do IAG. Estima-se que, quando forem obtidos os resultados, os acampados poderão ter uma noção melhor dos aquíferos na área, e planejar melhor suas ações. Hoje, a escassez hídrica é um dos maiores problemas do acampamento.
O projeto “Ciclo das Águas no Marielle Vive” é um projeto aprovado no Edital da PROEC 22/23 e procura, através de ações coparticipativas, isto é, construídas com os acampados, soluções para os problemas da escassez hídrica no Acampamento Marielle Vive. Outras ações do projeto, em conjunto com outros projetos de extensão similares na área do acampamento, foram o mapeamento de sub-bacias, a compra de bóias para as caixas d´água que abastecem o acampamento, bem como analises de agua para detecção de Elementos Potencialmente perigosos.