
Um grupo de pesquisadores se reuniu no IG no dia 10 de junho para estruturar a síntese de um projeto multidisciplinar de pesquisa realizado entre 2021 e 2023 no Vale do Paraopeba (MG). O foco do projeto foi analisar os impactos sociais e ambientais causados pelo rompimento da barragem operada pela Mineradora Vale em Brumadinho (MG) em 2019, que matou 271 pessoas e varreu com lama tóxica o rio e seus arredores. O trabalho realizado pelo grupo culminou na elaboração de um relatório com cerca de mil páginas, que será agora transformado em livro. A reunião foi liderada pela professora Dulce Maria Pereira da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
De acordo com a docente, o grande desafio na elaboração do livro sobre o projeto de pesquisa é sintetizar as páginas do relatório de pesquisa produzidas com ciência da mais alta qualidade. “O desafio é justamente trabalhar essa multidisciplinaridade de forma transversal e interseccional”, disse a docente, apontando como as áreas de pesquisa se inter-relacionam na produção dos impactos do rompimento da barragem de Brumadinho.
Pereira cita como exemplo a relação dos elementos aquáticos presentes no leito do rio. “Você tem a fauna, mas tem a flora também, que está sendo submetida ao mesmo tipo de contaminação e de dispersão de contaminação”, disse. “Nós estamos produzindo um livro que consiga tanto trazer o conhecimento e a interpretação científica sobre o território, mas também como isso se relaciona com a voz do território”, complementa. O livro está sendo desenhado metodologicamente a partir da escuta das pessoas que estão no território afetado e que interagem com o ambiente contaminado.
Outro desafio, aponta a docente, “é conseguir trazer a visão científica de forma interligada. A sistematização dos resultados por meio da ciência de dados vai ajudar muito, pois ao invés de mostrar, por exemplo, quais são os metais que estão no peixe, quais são os metais que estão na água, nós temos a possibilidade de construir uma base de dados que seja esclarecedora dessa realidade”.
O livro terá como público-alvo não só a academia, mas tambem pessoas não ligadas à academia interessadas no assunto. “Esse é um livro que se dedica a trazer o ser humano para o centro da ciência”, diz a docente. “É um tipo de trabalho que une o diálogo com a população com os resultados da ação científica e tecnológica”, complementa. A barragem é construída à partir de conhecimentos científicos. “Ela não rompe porque simplesmente rompeu. Ela rompe porque houve uma falha tecnológica”, complementa.
A professora da UFOP lembra, por fim, que não existe pós-desastre. O desastre permanece presente na vida daqueles que vivem na região afetada. Um exemplo é a ingestão de peixe daquela região que pode estar contaminado. “Então, ao mesmo tempo, esse é um trabalho que ajuda a universidade pública a cumprir a sua missão e nos motiva, inclusive, porque sabemos da contribuição que nós damos para a universidade pública e para a relação da universidade pública com a natureza e com as pessoas que vivem da natureza”, diz.
Participaram do evento, além da profa. Dulce, o Prof. Jefferson Picanço (IG), o prof. Ulisses Nascimento (UFMA), o professor Evandro Seidel (USP-RP), a pesquisadora Dra Mariana Guerra (EMBRAPA), e os pesquisadores Dra Jerusa Schneider e MsC Rafael Basseto (IG), além de Luiz Alexandre Lara e Rachel Moreno.
De acordo com Jefferson Picanço, docente do Departamento de Geologia e Recursos Naturais que organizou a reunião, o Instituto de Geociências participou ativamente do projeto de pesquisa através de ações ligadas ao Grupo de Pesquisa e Ação em Conflitos, Riscos e Impactos Associados a Barragens (CRIAB). Diversos estudantes de graduação e pós participaram das etapas de campo e escritório. Boa parte das análises de laboratório foram realizados nos laboratórios do IG, além de laboratórios da UNESP-Rio Claro e da Poli-USP.
Texto e fotos: Eliane F. Daré
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- Dulce Maria Pereira, docente da UFOP